Introdução
As leis de Kirchhoff são métodos para a
resolução de redes elétricas,
circuitos complexos que não podem ser reduzidos a um circuito equivalente.
Enquanto a Lei de Pouillet serve para resolver circuitos simples, as leis de
Kirchhoff serão muito práticas para a resolução de circuitos complexos. As duas
leis de Kirchhoff são: a Lei dos Nós
e a Lei das Malhas. Porém antes de
partir para elas é necessário a apresentação de alguns conceitos essenciais.
Rede Elétrica
Uma rede elétrica é um circuito complexo
constituído por malhas, ramos e nós e que não pode ser reduzido a um circuito
equivalente simples. Observe o exemplo a seguir:
A rede elétrica acima é constituída de dois
geradores E1 e E2 com resistências internas r1 e r2 respectivamente, um receptor E3 e resistência interna r3 e três
resistores de resistência R. Note que não é possível obter um circuito
equivalente pois não se tem como isolar nenhum dos elementos constituintes do
circuito.
Agora é necessário estabelecer algumas
identificações para a compreensão da rede. Observe a figura a seguir:
Trata-se do mesmo circuito citado acima porém
agora denotaremos algumas identificações.
Nó: é qualquer ponto de um circuito no qual a
corrente elétrica se divide, no circuito em questão os pontos B e E são nós.
Ramo: é qualquer fio que interliga dois nós. No
exemplo acima, há três ramos, ABEF, BE e BCDE respectivamente.
Malha: é qualquer conjunto de ramos formando um
circuito fechado. No exemplo, ABEFA
e BCDEB.
1° Lei de Kirchhoff - "Lei dos Nós" ou "Regra dos
Nós"
A primeira lei de Kirchhoff estabelece que:
"Em um nó, a soma das
intensidades de corrente elétrica que chegam é igual a soma das intensidades de
corrente elétrica que saem."
Observe o exemplo a seguir:
A corrente elétrica i1 que percorre a malha ABEFA
e a corrente elétrica i2 que
percorre o ramo BE ao chegarem ao nó
B resultam em i3 o qual percorre a malha BCDEB.
Como a primeira lei de Kirchhoff estabelece que a intensidade da corrente que
sai de um nó é igual a intensidade da corrente elétrica que entra em um nó,
estabelece-se para o circuito acima que:
Exemplo
1:
Considere a rede elétrica a seguir:
Supondo que a corrente elétrica i1 vale 2A e i2 4A, calcule a corrente elétrica i3.
Resolução:
De acordo com a primeira Lei de Kirchhoff ou "Lei dos Nós", a
soma das correntes que entram em um nó é igual a soma das correntes que saem de
um nó. No circuito acima, a corrente i3 sai do nó B e as correntes i1 e i2 entram no nó B. Portanto:
i1 + i2 = i3
2 + 4 = i3
i3 = 6A
2° Lei de Kirchhoff - "Lei das Malhas" ou "Regra das
Malhas"
A segunda lei de Kirchhoff estabelece que:
"Ao percorrer uma malha em
um sentido contínuo qualquer, retornando-se ao ponto de partida, a soma das diferenças
de potencial elétrico é nula".
Observe o exemplo a seguir:
Chamando a malha de α e percorrendo-a no sentido indicado (sentido
horário) obtemos:
Portanto
conclui-se que:
Ou seja,
a soma das diferenças de potenciais elétricos (d.d.p) na malha α é nulo.
Convenções
Como o sentido de análise das malhas é
completamente arbitrário, o sentido percorrido pode equivaler tanto a um
aumento de tensão quanto uma queda de tensão. Para isso estabeleceram-se
algumas convenções, observe as figuras a seguir:
Figura
1 Figura 2
Note que na figura 1 a corrente i1 se dirige do maior potencial VA para o
menor potencial VB e o sentido de análise α coincide com a da corrente. Como toda resistência
representa uma queda de tensão, a corrente estaria entrando pelo polo positivo
(+R.i). Já na figura 2, o sentido de análise a é oposto ao potencial elétrico do
resistor, portanto a corrente estaria entrando pelo polo negativo. (-R.i)
Para geradores e receptores, o sinal da
tensão coincide com o polo pelo qual o percurso α entra.
Nota: Por questão de preferência,
irei adotar a análise de percurso sempre no sentido da tensão do gerador (maior
fem da rede elétrica).
Exercícios
Exemplo
1
Para o circuito da figura, determine as
intensidades das correntes elétricas em todos os ramos.
Resolução:
Como se
trata de uma rede elétrica devemos aplicar as leis de Kirchhoff. Lembre-se, nunca
parta para a lei das malhas sem antes ter feito a leis dos nós!
Lei dos Nós:
Como o
gerador encontra-se na
malha α (maior f.e.m), supõem-se que a corrente elétrica siga o trecho F-A, portanto
a fonte de 3,5 V na malha β atuará
como receptor. Logo, as correntes elétricas i1 e i2 estarão chegando ao nó B e
a corrente elétrica i3 saindo do nó B.
Soma das
correntes que entram no nó = Soma das correntes que saem do nó
i3 = i1 + i2 ( 1 )
Lei das Malhas:
Como a
lei dos nós já foi estabelecida podemos prosseguir para a lei das malhas.
Adotando como sentido de análise das malhas o mesmo das correntes (horário)
temos a soma de tensões nula. Seguindo as convenções corretamente:
a) -10 +
2.i1 - 3.i2 + 13 = 0 → 2.i1 -
3.i2 = -3 ( 2 )
B) -13 +
3.i2 - 14 + 4.i3 + 3,5 + i3 = 0 → 3.i2 + 5.i3 = 23,5 ( 3 )
Nota: Como o resistor de 3 Ω é comum para as duas malhas, adotei arbitrariamente que o sentido de B
define o sentido positivo ao passar pela resistência.
Substituindo
( 1 ) em ( 2 ):
3.i2 + 5.(i1 + i2) = 23,5 → 5.i1 + 8.i2 = 23,5 ( 4
)
Multiplicando
( 4 ) por 2 e
somando com ( 3 ) multiplicado por -5
{ 10.i1 + 16.i2 = 47
{ -10.i1 + 15.i2 = 15
31.i2 =
62 →i2 = 2 A ;
substituindo i2 em (3): i1 = 1,5 A; substituindo i1 em (1): i3 = 3,5 A
Exercício
2
No circuito dado, determine a diferença de
potencial VA - VB no ramo
AB.
Resolução:
Para
determinar a diferença de potencial entre os nós A e B precisamos saber a
corrente que passa pelo resistor de 15 Ω. O primeiro passo é obter
o sentido das correntes nas malhas.
Lei dos Nós:
O gerador encontra-se na
malha α, portanto a corrente irá percorrer a malha esquerda no sentido horário.
De A até B temos uma queda de potencial, portanto a corrente na malha direita
deve ter sentido anti-horário. As correntes i1 e i3 chegam ao nó A
e a corrente i2 sai do nó A, portanto:
i2 = i1 + i3 (1)
Lei das Malhas:
α)10.i1 - 20 + 15.i2 = 0 → 10.i1 + 15.i2 = 20 → 2.i1 + 3.i2 = 4 (2)
β)10.i3 - 12 + 15.i2 = 0 → 15.i2 + 10.i3 = 12 (3)
Substituindo (1) em (3):
15.i2
+ 10.(i1 + i2) = 12 → 10.i1 + 25.i2 = 12 (4)
Multiplicando (2) por -5 e somando com (4):
{ -10.i1 - 15.i2 = -20
{ 10.i1 + 25.i2 = 12
10.i2 = -8
i2 = -0,8 A ; note que o sinal deu negativo, isso significa que o sentido adotado
está invertido, basta considerar em módulo, portanto i2 = 0,8 A
Encontramos a corrente que passa pelo ramo
AB, portanto através da Lei de Ohm, resistor de 15 Ω e corrente de 0,8 A:
U = R.i →U = 15 . 0,8 →U = 12 V
Exercício 3
(Efei - MG) As duas baterias do circuito, associadas em paralelo,
alimentam: o amperímetro A ideal, a lâmpada de incandescência de resistência R
e o resistor de resistência interna 1Ω,
todos em série. Se o amperímetro registra 4 A, calcule:
a) as intensidades das correntes i1 e i2 nas baterias b) a
resistência elétrica R da lâmpada
Resolução:
Lei dos Nós:
O gerador está localizado na malha superior
(12 V), portanto o sentido da corrente será anti-horário,
a corrente i3 terá de circular no sentido anti-horário para trazer a corrente i2. Portanto:
i3 = i1 + i2 → i2 = i3 - i1 (1)
Lei das Malhas:
Como o resistor de 0,3 Ω é comum para as duas
malhas, adotaremos como positivo o sinal
por onde entra a
corrente da malha a no resistor. Pelo enunciado, i3 = 4 A.
a) -12 +
0,5.i1 + 0,3.i2 + 10 = 0 → 0,5.i1 + 0,3.i2 = 2 (2)
B) 4R +
3 - 10 - 0,3.i2 = 0 → -0,3.i2 = 13 - 4R (3)
Substituindo (1) em (2):
0,5.i1
+ 0,3.(4 - i1) = 2 → 0,2.i1 = -0,8 → i1 = 4A ; substituindo i1 em (1): i2 = 0
Nota: o sinal negativo indica que o sentido adotado
está invertido, basta considerar em módulo.
Para determinar R podemos usar a Lei de Pouillet:
Exercício 4
(FEI - SP) No circuito da figura, a intensidade de
corrente i1, vale 0,2 A. Determine i2, i3 e R3.
Resolução:
Lei dos Nós:
O sentido das correntes já foi exposto na
questão. i3 está entrando e i1 e i2 estão saindo.
i3 = i1 + i2 → i2 = i3 - i1 → i2 = i3 - 0,2
(1)
Lei das Malhas:
a) -3 +
5.i1 + R3.i3 = 0 → -3 + 5.0,2 + R3.i3 = 0 → 2 = R3.i3 (2)
B) -5 + 5.i2 + R3.i3 = 0 (3)
Nota: Perceba que R3 tem o mesmo sinal nos dois já
que coincidem no sentido.
Substituindo (1) em (3):
-5 +
5.(i3 - 0,2) + R3.i3 = 0 → 5.i3 + R.i3 = 6 (4)
Multiplicando (2) por -1 e somando com (4):
{ -R3.i3 = -2
{ 5.i3 + R.i3 = 6
5.i3 =
4
i3 = 0,8 A
Substituindo i3 em (1):
i2 =
0,8 - 0,2 → i2 = 0,6 A
Substituindo i3 em (2):
2 =
R3.0,8 → R = 2,5 Ω
Por Marcelo Carsten
muito bom
ResponderExcluirGrato
ResponderExcluirMe ajudou muito.
ResponderExcluirGrato.
Excelente. Muito didático. Parabéns por abordar esse assunto da física de forma tão simples!
ResponderExcluirmuito bom, gostei.
ResponderExcluirGrato me ajudou muito
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ResponderExcluirExcelente!
ResponderExcluircomparto un post:
https://quasartechsciencie.blogspot.com/2019/12/historia-de-un-grande-james-clerk.html
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